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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Quando o problema é você...


São tão gigantescos os problemas do mundo, tão complexos, que para compreendê-los e resolvê-los precisamos estudá-los da maneira muito simples, direta. E a simplicidade, a ação direta não dependem de circunstâncias exteriores nem de nossos preconceitos e caprichos pessoais.
A solução não se encontra nas conferências e nem em projetos, e muito menos nas substituições dos velhos pelos novos líderes. A solução encontra-se evidentemente no criador do problema, no criador de desequilíbrio, no criador de ódio e da enorme incompreensão existente entre os seres humanos. O criador de todo este mal, destes problemas, de todos os sofrimentos, é o indivíduo, é você, sou eu, somos nós, e não o mundo, como alguns querem que seja.
Pois o mundo são as nossas relações com os outros, não é uma coisa separada de nós.
O mundo, a sociedade, são as relações que estabelecemos ou procuramos estabelecer entre nós.

Você e eu, conseqüentemente, somos o problema, e não o mundo, porque o mundo é a projeção de nós mesmos, e para compreendê-lo precisamos compreender a nós mesmos. O mundo não está separado de nós, nós somos o mundo, e os nossos problemas são os problemas do mundo. E nunca é demais repetir isso, porque temos uma mentalidade tão infantil... pensamos que os problemas do mundo não nos dizem respeito e que teria que ser resolvido pelos outros.

Percebe-se uma mentalidade muito pequena, muito mesquinha ao pensarmos dessa maneira, porque nós é que somos os responsáveis por essa terrível miséria intelectual que se alastra cada vez mais no mundo, por estarmos tão sozinhos e por esses intermináveis conflitos; somos nós que criamos tudo isso para o mundo e não o mundo que criou tudo isso para nós. O mundo é apenas um cenário, um palco onde nós produzimos as nossas comédias ou as nossas loucuras.
E para transformarmos o mundo, precisamos começar por nós mesmos, e o que é de suma importância no começarmos por nós mesmos, é a intenção. A intenção deve ser a de compreendermos a nós mesmos e não esperarmos que outros se transformem ou realizem uma alteração superficial. É importante compreendermos que esta obrigação é nossa, sua e minha. Porque, por mais insignificante que seja o mundo em que vivemos, se nos propusermos transformar, introduzir na nossa existência diária um ponto de vista radicalmente diferente; então, talvez venhamos a influenciar no mundo como um todo, o qual são as nossas relações com os outros, em escala bem mais ampliada.
Vamos pelo menos tentar descobrir o processo da compreensão de nós mesmos, o que não é um processo isolante. Isto não quer dizer que você deva se retirar para longe do mundo, fugir dos conflitos existentes, porque não se pode viver no isolamento. Ser é estar em relação e não existe essa possibilidade de viver no isolamento. Mas é a falta de relações corretas que tem gerado conflitos, angústias e todas as lutas. Por menor que seja o nosso mundo, se pudermos transformar nossas relações dentro desse pequeno mundo, essa transformação, irá se dilatando constantemente no mundo exterior. Acredito ser bastante importante compreender bem este ponto, isto é, que o mundo são as nossas relações, por mais limitadas que sejam, e que, se pudermos operar uma transformação aí, não uma transformação superficial, porém radical, começaremos a transformar o mundo.
A verdadeira revolução nada tem a ver com algum padrão especial, é uma revolução de valores, uma revolução em que passamos dos valores sensuais, dos sentidos, aos valores que não são sensuais e muito menos criados por influências ambientais.
Para se descobrir esses verdadeiros valores, que devem produzir uma revolução radical, uma transformação ou regeneração, é imprescindível que compreendamos a nós mesmos. O autoconhecimento é o começo da sabedoria e, conseqüentemente, o começo da transformação ou da regeneração. Para compreendermos a nós mesmos, é necessária a intenção de compreender, e nisto reside nossa dificuldade.

Embora descontentes, quase todos nós desejamos realizar uma alteração súbita. O nosso descontentamento é canalizado de forma errada. Quando estamos descontentes, procuramos uma ocupação diferente, ou então nos entregamos ao desânimo. É engraçado que, quando ficamos descontentes, ao invés de inflamarmos de entusiasmo para investigar a vida, para investigar o processo inteiro da existência, canalizamos essa energia para a revolta, para a raiva, para insatisfação e, conseqüentemente, nos tornamos medíocres, perdendo aquele ímpeto, aquela intensidade de energia necessária para compreendemos o significado total da existência.

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